“Era estagiária de Serviço Social quando, aos 17 anos, consegui colocação no Hospital de Santana na Parede, onde havia doentes com paralisia cerebral, poliomealite e outras doenças incapacitantes”. Apaixonou-se. “Comecei a interessar-me pela causa das crianças com deficiência que ficavam ali cinco, dez, 15 anos sem voltarem a casa, nalguns casos sem voltarem a ver a família”.
Corria a década de 70 e no país não havia nada para além de alguns depósitos como este, sem estrutura para otimizar as capacidades destas pessoas e resgatá-las para a vida. “Ver algumas crianças em corpos tão deformados e no entanto com cabeças tão válidas e sentimentos tão profundos fez-me perceber que era sobretudo a elas que desejava dedicar o meu trabalho”. E assim foi. “Nessa época já existia a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral, de modo que não descansei enquanto não me admitiram ao seu serviço”.
Nada há de mais inspirador que a paixão, por isso uma vez lá dentro ela pintou a manta, desarrumou a casa, construiu castelos: “Os técnicos eram muito competentes, mas a abordagem que faziam aos pacientes baseava-se exclusivamente em terapias. Fui eu que levei a parte lúdica para o sistema”.
Já tinha ouvido falar do que se fazia noutros países. Foi ver. De Inglaterra, onde fez formação, veio com o know-how de que precisava: “Trouxe o desporto, dança e mil ideias para a ocupação dos tempos livres das pessoas com deficiência”.
Orgulha-se de ter revolucionado o meio e acredita que tudo o que foi alcançado no Centro de Paralisia Cerebral de Lisboa tenha influenciado as novas instituições que apareceram: “É natural que as Cercis e a AFID, entre outras organizações inovadoras que surgiram mais tarde, tenham ido buscar alguma inspiração ao centro”.
Sobre a AFID, que agora é trintona, mas que viu “desabrochar”, diz que gosta “do selo de qualidade que põe em tudo o que faz, dos seus métodos de trabalho, muito profissionais, centrados em objetivos, e do modo como abriu as portas à comunidade”. Mas sobretudo gosta da forma como “tudo é personalizado”. “Sei que o Domingos Rosa e a Lutegarda Justo conhecem todos os seus clientes pelo nome e isso só acontece porque na AFID há chama. Ama-se o que se trabalha”.