Juvenal Baltazar sempre sentiu vocação para o serviço social, “trabalhar na AFID é um tremendo estímulo”. Nos anos que já leva de casa teve oportunidades e incentivos que lhe permitem falar do seu percurso profissional com satisfação iniludível. Mas por mais empolgantes que tenham sido todas as experiências por que passou, nenhuma se compara à da sua história com Rafael.
“Recebemo-lo no lar residencial quando eu exercia lá as funções de diretor técnico. Não tinha família. Vivera desde a mais tenra infância em lares da Casa Pia de Lisboa e aos 23 anos, quando nos chegou, com um défice cognitivo acentuado, era um jovem muito vulnerável, a procurar adaptar-se a um ambiente que lhe era estranho”.
Como sempre acontece quando recebem na AFID um residente novo, pediram a um dos internos para apoiar o recém-chegado durante os primeiros tempos a fim de lhe facilitar a socialização, tarefa que foi cumprida com o máximo escrúpulo e entusiasmo.
“Adaptou-se bem. Em pouco tempo Rafael passou a considerar a AFID a sua casa e desenvolveu laços afetivos com os seus companheiros de internato e funcionários da fundação. Num dia, durante uma das muitas dinâmicas que organizamos em colaboração com os pais dos nossos jovens, foi necessário fazer fotos com a família para um painel que se encontrava em construção e mais tarde seria exposto nas nossas instalações”. É então que o Rafael protagoniza um dos momentos mais tocantes da vida de Juvenal Baltazar. “Como não tinha família pediu-me para entrar na tal foto com ele e a nossa psicóloga. A falta de uma figura maternal e paternal tinha-o levado durante aquele processo a olhar para mim e para ela como pais substitutos”.
Emoção total. “Não me ocorre uma forma mais expressiva de reconhecimento pelo nosso trabalho”. A partir desse momento as suas relações estreitaram-se ainda mais. “Foi um processo natural, que acabou por extrapolar o perímetro da AFID. Hoje o Rafael também já faz parte da minha família. Vem passar o Natal connosco e às vezes as férias. E como me tornei seu padrinho de crisma, acabámos mesmo por criar formalmente um laço familiar”.
Na mesa de cabeceira o Rafael agora tem fotos com os filhos de Juvenal. Trata-os por sobrinhos.